segunda-feira, 22 de novembro de 2010

MANUSCRITO



Lembro muito do meu primeiro amor. Ou o que julguei ser amor. Bem, era amor. Da forma como os adolescentes amam, infinitamente, até o próximo aparecer. Mas eu sempre fui muito fiel as minhas ilusões e mantive firme esse sentimento por anos. Sempre foi bom sonhar com aquele menino loiro parafinado, cheio de aspirações e pouco juízo, que me causava transformações intensas na forma como eu via a mim mesma e aos homens.
Aprendi ali que em todos os relacionamentos que vivemos na vida, fica um pouco da gente e levamos um pouco da pessoa também. Lembro com infinita candura dos suspiros que dei.
Até que conheci um homem mais velho, quando estava entrando na faculdade. Ele tinha 15 anos a mais que eu, divorciado, senhor de si. Fiquei assustada e incondicionalmente ligada a ele por quase quinze anos. Acreditei que aquilo que eu sentia era o maior de todos os amores e que sem ele, nada teria mais graça, como de fato foi, em nossas constantes separações.
Aprendi com ele que o amor pode ser cruel, dependente e atroz com os ingénuos.
Decidi aloprar, beijar bocas gostosas, a ensaiar sexo casual e a me encantar, sem com isso criar vínculos eternos. Nessas aventuras, conheci o pai da minha filha e com ele tenho vinculo para o resto de minha vida.
Até que veio um carinha 15 anos mais novo que eu e carregou definitivamente todos os preceitos que eu tinha sobre o amor. Foi a paixão mais avassaladora que eu já tive e também um amor tão lindo quanto irreal. Ainda hoje lembro dele com tanto afeto que chego a chorar. 
E aprendi com ele mais uma lição importante, a de que cada amor é de um jeito e carrega consigo o seu momento e sua necessidade. Sofri por amor, desci aos infernos no mar de depressão e voltei, não sem dores e marcas. Olho a cicatriz do meu coração e nunca esqueço que sofrer faz parte para se dar um passo maior.
Então me apaixonei por um homem porque ele era apaixonado por mim e seu jeito cândido e cúmplice me fizeram musa e eterna. Mas amor alugado não rende mais que alguns beijos e lágrimas de despedida. Comigo, até boas histórias.
Entendo que a gente ama e que isso faz bem. Que alguns amamos mais, outros menos, somos correspondidos ou nem tanto, que faz bem amar demais e ser amado de menos e vice-versa, que pode ser forte até a primeira briga ou ameno até alguns verões. Mas amor é sempre uma delicia. Nada se compara aos olhos marejados, o coração pulsante e o prazer em dar prazer a quem a gente ama. A felicidade do alheio é o elixir da juventude e mola mestra da nossa própria felicidade.
Amor que se vai, amor que se vem, amor que volta sem avisar e vai sem pedir licença. 
Nenhum amor é igual ao outro, mas todos chegam porque estamos abertos a eles e conseguimos ver o que aquela pessoa tem que nos faz admira-la tanto. E nenhum sobrevive se essa admiração não vai além da beleza física, de algumas frases feitas e do jogo de interesses.
Amor vem na respiração. No olhar que não cessa. Na angústia de não saber o amanhã sem a presença simples e magnanima do ser amado.

Nunca conheci alguém tão igual a mim quanto meu atual amor e nem tão singular. Embora ele não saiba a importância que tem. Muito menos que me modifica tanto em tão pouco tempo, sem motivos para explicar. Nem reconheci outro amor pelo simples olhar, tão explicativo como anos de mestrado.
Eu o quero nas minhas entrelinhas por tanto tempo enquanto posso visualizar no horizonte. E beijar suas diferencias, discordar, fazer corar e ser simplesmente feliz, porque o faço feliz também.
Escrever histórias, poemas e frases, como de outros amores eternos que passaram em minha vida e talvez chorar pela sua perda.
Pouco sei do agora, muito menos tenho o poder de ver o amanha.
Mas sei que amor é o que eu sinto por ele.
Vida que segue...



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