quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Cirurgia




O verdadeiro amor é tão avassalador, que sempre escapa de forma abrupta.
Uma incisão sem anestesia, sangra tanto que resseca, empalidece.

- Não consigo mais tateá-lo. Está longe demais para que eu possa tocá-lo, mas seu cheiro nunca saiu de minhas narinas e nem sairá.

domingo, 7 de abril de 2013

DESERTO



A frente, atrás, dos lados: nada. O vão, vazio e eterno nada. Ninguém a espreita, ninguém a vista, nenhuma casa, comércio, respiração, vida ao redor.
Dentro de mim, o deserto se instala. Ignora qualquer som ou ruído, movimento e cor. Escuro e sem cheiro, uma caixa sem saída.
Meu coração vazio, sem amor, sem esperanças, sem vontades, sem tristezas ou alegrias, sem soluções e sorrisos. Uma total devassidão. Seco. Oco.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

MUNDINHO



O mundo, tão grande, nas minhas mãos. Bem na palma das minhas mãos. Não dá para cobri-lo, mas é possível acarinha-lo.

Nas mãos, o mundo, o tema, a vida, minha e de outros. Girando, sórdida, sem dó ou piedade, rasgando o marasmo e o correto. Atravessando a nota da música, trocando os passos, perturbando os pensamentos.

O mundo, gigante, tão acessível, na palma das minhas mãos. Não sei o que fazer com ele, embora sempre quis tê-lo por perto. Mas é tão grande, tão pequeno, tão meu, que as decisões pairam ao léu, vagueiam como vinho no copo torpe.

Mundo vasto, mundo louco, mundo tão pequeno que nos emaranha em nós. Nos esbarra em nós mesmos, em cada esquina. Mundo da terra, da pedra, do mar, do vento que me leva para longe e me deixa sempre no mesmo lugar.

Mundo que me perde, que me angustia, que me tormenta, que me silencia, que me ama. Que me deixa na mão quando eu mais preciso que ele esteja firme entre elas. Mundo louco.

MAR SOLITÁRIO




As pessoas esquecem que temos vida, história, infância. Que já choramos por um filme ou dois ou vinte. Que temos uma música que nos emociona e outra que faz dançar. Que a vida nos levou tantos pedaços e nem sempre trouxe outros de volta. Que mudamos de opinião várias vezes, porque aprendemos a ver outros lados da mesma história.

Elas esquecem muito fácil que somos como eles, que temos o mesmo ritmo biológico e social, porém também construímos caminhos diferentes. O mundo é egoísta até a última gota. Sem freios e consciência, como se a tecnologia também trouxesse o "olhar para o próprio umbigo", como se não existem outras pessoas ao redor e com sangue correndo nas veias.

A vida é injusta, mas comer o pirão primeiro com medo de não sobrar é desumano. Porque você também pode sentir fome em outra ocasião. Mas se dividisse, para comer como todos, não tanto quando a fome pede, mas o suficiente para tapiá-la, seriamos melhores, mais leves e entenderíamos o que é o verdadeiro amor.

Cada dia eu sinto mais amor ao próximo, inclusive aquele que me faz mal, sem dó ou piedade. Quanto mais alguém é sórdido comigo, mas entendo que essa pessoa está fazendo mal de verdade a si mesmo, buscando um caminho de escuridão, muito além do que dizem as bíblias cristãs.

Não tem nada a ver com pecado, mas com pobreza de espírito. Se você não é capaz de sentir a dor do outro e respeitá-la, não é capaz de amar e muito menos ser amado. Por isso se envolve em uma crosta de pseudo amor próprio, a qual se sujeita as maiores perfídias. Sim, quem olha só para si e esquece dos outros, na verdade não se ama. Não há amor em divisão, em subtração. O amor, é mais que tudo soma, daquelas que agregam valores, afetos, palavras e silêncios. O amor é paz. E quem é egoísta não sabe o que é isso, a não ser aquela comprada, adquirida a custa de ausência.

Odeio a vida humana que surge no meio de tanta lama, que me faz chorar com pensamentos pequenos. Amo a vida humana, por sua imperfeição e tamanha defesa da felicidade. A vida é uma contradição. Mas o amor é o único elo que nos une diante do divino, seja lá ele o que for.