quinta-feira, 20 de março de 2014

Grilo




Eu não sofro por abstinência de sexo, mas de amor. E estou naquela entressafra que não sobra nem galã de cinema ou novela para fazer meu coração acelerar.

Às vezes, ouço uma música bem romântica, daquelas que se ouvia na madrugada com voz grossa de locutor de fundo, só para chorar e suspirar. Mas chorar e suspirar sem nenhum amor para se imaginar, desejar ou sofrer, não tem a menor graça.

Minhas bochechas estão gélidas, pelo tempo que não aquecem de timidez e emoção. Minha expressão está nitidamente apática, sem aquele viço de pessoa apaixonada. Até meus cabelos estão opacos, sem terem motivos para balançarem ao vento.

É tanta gente que não encaixa que tem uma hora que o coração cansa. Não tilinta por nenhum homem, mesmo o mais abastado de beleza. Afinal, pra que beleza se o conteúdo não satisfaz? E pra que tanto conteúdo se não existe um charme que faça o desejo estremecer?

Não adianta forçar, senão ele acaba ficando vazio, e neste dado momento da vida, as exigências são demais e deveras insatisfeitas. Não basta aparecer alguém, como se não existisse muitas opções, agora tem que ser “o certo”.

O certo imperfeito, claro. Porque de perfeição basta o tédio da espera, a chateação da solidão. Muito perfeito parece de plástico, sem o tempero que os vícios proporcionam.

Cadê esse errado que encaixa? Esse torto que entorpece?

Talvez nos meus sonhos.... talvez perdido a minha procura...


A esperança é o verde que dar cor nos campos cinzas da descrença.