terça-feira, 8 de dezembro de 2009

SACUDIDELA



E como será amanha se o vento não disser o que aconteceu? Posso deixar escapar que mesmo dando de ombros com sua indiferença, me sinto dolorida.


É divertido te ver se esforçar para mostrar para mim que não somos nada um para o outro e que sente asco de mim. Um asco sinônimo de mel, que te hipnotiza a me seguir em cada passo ou gesto meu.

É notório que não posso merecer tamanho fel. Mas o coração, muito menos o meu, é incapaz de ouvir retóricas. Eu te olho nos olhos, mesmo que seja em soslaio e sacudo de palpitações. Porque tua voz rouca rompe meus espaços vazios.

Eu queria te chamar de amor, mas não devo. Não devo nem sentir o mínimo de amizade por alguém que me despreza, ainda que tão divertido. A vontade de rir que me dava a cada movimento forçado seu, foi digna de comédia dos erros.

Só não achei graça quando ensaiei uma lágrima ao te ver com alguém. Mesmo que esse alguém não fosse nada para você, ainda assim, era você.

Fiquei dolorida, com os braços doendo, a câimbra exposta, a ponta do sorriso se pronunciando e os olhos em misto de alegria e medo.

Não sei nada do que aconteceu, perdi seu mapa.

Até onde você vai com sua cena, meu bem?

Ontem um homem me roubou o celular e o curto dinheiro no fundo da bolsa. Eu insisti para não levar o pouco ou quase nada que tinha, mas ele foi irredutível, muito mais por vergonha de voltar atras do que por possuir o impossuível.


Eu não senti muita coisa. Nem raiva, nem ódio, nem desespero, nem simpatia. Era como se eu ficasse congelada no meio daquela rua, andando em vazio completo, sem destino e sem noção do que estava acontecendo ou iria acontecer. Uma anestesia da memoria e dos sentimentos.

Talvez a violência esteja tão impregnada em nossa vida que fica banal sermos assaltados. Eu olhava para aquele homem mirrado e tão comum, que custei a entender que ele poderia me fazer um mal. Até que suas ameaças aumentaram, a violência se pronunciou em seus olhos, quase forçada, pela ocasião e ele, de tão normal, virou um vilão.

Parecia uma dança escapar de uma faca. Jogo de cintura não me faltou, até que uma ponta de sangue sucumbiu na gota afiada e senti um frio de despedida.

Só lembrei da minha filha aquela hora, no momento do sangue eminente, de uma provável luta, um sofrimento terminal. Aquele sorriso cândido, tão meu, tão vivo...

Pensar em minha filha me protegeu. Meu manto sagrado de vida, o amor.

Esse amor que falta na humanindade, que permite que possamos olhar nos olhos do outro e compreender suas falhas, perdoar suas eventualidades e respeitar o próximo, sem para que isso provenha de sofrimento.

A maior perda não foi de objetos pessoais efêmeros, mas da dignidade.