terça-feira, 8 de dezembro de 2009


Ontem um homem me roubou o celular e o curto dinheiro no fundo da bolsa. Eu insisti para não levar o pouco ou quase nada que tinha, mas ele foi irredutível, muito mais por vergonha de voltar atras do que por possuir o impossuível.


Eu não senti muita coisa. Nem raiva, nem ódio, nem desespero, nem simpatia. Era como se eu ficasse congelada no meio daquela rua, andando em vazio completo, sem destino e sem noção do que estava acontecendo ou iria acontecer. Uma anestesia da memoria e dos sentimentos.

Talvez a violência esteja tão impregnada em nossa vida que fica banal sermos assaltados. Eu olhava para aquele homem mirrado e tão comum, que custei a entender que ele poderia me fazer um mal. Até que suas ameaças aumentaram, a violência se pronunciou em seus olhos, quase forçada, pela ocasião e ele, de tão normal, virou um vilão.

Parecia uma dança escapar de uma faca. Jogo de cintura não me faltou, até que uma ponta de sangue sucumbiu na gota afiada e senti um frio de despedida.

Só lembrei da minha filha aquela hora, no momento do sangue eminente, de uma provável luta, um sofrimento terminal. Aquele sorriso cândido, tão meu, tão vivo...

Pensar em minha filha me protegeu. Meu manto sagrado de vida, o amor.

Esse amor que falta na humanindade, que permite que possamos olhar nos olhos do outro e compreender suas falhas, perdoar suas eventualidades e respeitar o próximo, sem para que isso provenha de sofrimento.

A maior perda não foi de objetos pessoais efêmeros, mas da dignidade.

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