segunda-feira, 5 de novembro de 2012

SILÊNCIO



Se digo que te amo, é tão baixinho que nem eu mesmo escuto.
Tenho medo que escutes, que me rejeite, que mude.
Eu digo te amo em silêncio, deixo meus olhos de lado para que não me condenem tanto.
Melhor o silêncio que a possibilidade que te vás. Prefiro fitar teus jeito bem de perto, ouvir ainda sua voz e poder sonhar com seu sotaque, sentir teu cheiro entrando sem pudores nas minhas narinas e, quem sabe, ainda ter um chamego teu nas horas em que o afeto for mais forte.
Se tu fores embora, minguarei de tristeza, serei invadida pela maldita solidão que sempre foi minha companheira, terei meus dias partidos com sua ausência.

Por isso, digo que te amo tão dentro de mim, que nem escuto.
Para que não ouças, não te assustes, não te rompas de mim.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

INTEIRA



Quero me embrenhar nesses seus pelos, abrigar essa boca fugitiva, apertar seus lábios macios e sorrir enquanto te beijo de língua.
No canto da boca, você tenta escapar, em vão.
Ali no fundo da tua alma, eu já me instalei.



SOLITÁRIA



Eu nado contra a corrente desde que nasci. Nunca ouvi nada muito calada e sem contestar, mesmo que silenciosamente, os caminhos pré-estabelecidos. Eu nunca suportei as frases feitas, o comportamento que é para ser e ponto, a tal massacrante rotina pagã.

Nada na minha vida é normal, com linhas retas e finais esperados. Sempre fui torta, meu caminho é complexo com curvas e ramificações. Meu raciocínio é amplo e minha visão profunda, dentro de uma mente incansável e que não se cansa de pensar.

Você não me entende, mesmo que abra sua mente e me olhe bem de perto. Haverá sempre dúvidas e a certeza de uma vil loucura pontuando minha postura. Pode até rir de meus supostos devaneios, se enfurecer com minhas lógicas e ter pena de mim por não ser como todo mundo é. Mas entenda, não preciso fazer sentido para ninguém. Eu vou te ouvir, entender seus conselhos, seguir o que está dentro de mim e arcar com as consequências dessas escolhas porque eu sei que eu preciso viver assim.

Nunca achei que fosse fácil viver como eu sou, pode ter certeza que em muitos momentos, eu pedi para ser comum, mas não sou e aceito meu destino que não tem nada de glamouroso, porque não tem beijo de príncipe no final ou um troféu de congratulações. Viver fora do eixo, do politicamente correto, do que esperam sua família, amigos, conhecidos e desconhecidos, sempre prontos para torcer o nariz e dar uma sugestão ácida sobre minhas escolhas, é estar a margem de tudo. E estar a margem é ser solitário.

Não se iluda. Com toda essa substância estranha, sou simples, quero coisas básicas, como todo mundo quer. Ser feliz, ter conforto digno, um grande amor para me tirar do chão, meus amigos ao redor... coisas singelas que fazem todas as dificuldades valerem a pena.

Eu só mudo os meios, jamais os fins.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

SUFOCO




Estou tonta. Você me deixou tonta. Há dois, três dias, nem sei, cada dia mais tonta. Eu sei que eu permiti, mas não tive escolha, estou no meio do teu furacão interno e minha cabeça roda e embaraçam meus cabelos. Queria que fossem só os cabelos desalinhados, mas meu corpo treme de medo de estar ai.
Medo. Preciso sair, meus pés estão cada vez mais escorregadios e a firmeza das minhas pernas vão se perdendo com a força do teu vento. Me tira, não me deixa ficar, por favor. Essas tempestades acabam comigo, destroem meu vestido e mancham minha alma, meu coração não está mais resistente as trovoadas e raios. Ele está frágil, mínimo, quase um botão arranhado, meio fragmentado em pedaços de pele descascada.

Queimado. Torto até, como meus olhos esquivos. Estou lenta. Quase desesperada, mas ainda encontro uma nesga de razão, capaz de olhar um fiapo de fuga, para te espiar ao longe, em sua tormenta psicodélica, onírica, irreal.

Já respiro melhor, mas meus olhos marejam. Quero te dar as mãos e te puxar daí, mas não posso. Esse tufão é teu, é só você quem pode acabar com ele. E dói ver o quanto sofre, mesmo quando ri, ainda tem dor entre seus dentes, amargura em tuas risadas, dúvidas em suas certezas.
Esquece tudo isso, sai daí. Vem comigo, eu sou real. Estou olhando você, do teu lado, respirando no teu compasso, sonhando os teus sonhos, desejando o teu desejo, porque somos iguais. Sim, somos iguais e eu sei muito bem o que se passa ai dentro de você. Juro que sei, me deixa te ajudar, me dá tua mão. Me abraça, seja meu. Não diga nada, só respira comigo até sentir vontade de me beijar. Até suas mãos pararem de tremer, até suas narinas se prepararem para se envolver com meu cheiro, aquele que você gosta, que te trouxe pra mim, cheiro de menta, de frescor.

Apaga a luz e vem dentar do meu lado de conchinha, porque agora você vai sonhar comigo e quando acordar, minha cabeça permanecerá pendente em teus braços agora dormentes e em momento algum fugirei de você.  

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

INTEIRA




Pragmática e despudorada felicidade, vem com tudo para dentro de mim e me faz mulher de verdade, parte da natureza, simples, intensa, eu.

Ah felicidade, entra agora que te quero, porque é a hora certa, estou pronta para te receber e ser possuída por você.


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

VINGANÇA



Não há nada pior que ser trocada por outra mulher e muito mais desinteressante que você.
A primeira sensação é de diminuição, culpa, procurar atitudes suas que justifiquem tal atitude.Carregada sempre de tristeza, lágrimas, depressão.
Em seguida, vem aquelas célebres frases "ele não te merece!" e "você vai encontrar coisa melhor", apenas justificativas para dar um ligeiro alento em que está abaixo do chão.
Haja sofrimento! Até porque, dizer que alguém é insignificante para nós, porque ele nos despreza, é também uma forma de mostrar quanto nosso cotovelo está doendo. Porque está mesmo, o sabor é amargo demais, demora a passar...
Dá vontade de vingar cada lágrima derramada. E em alguns casos, a vingança é justificada plenamente. Mas pra que? Até se vingar é uma forma de mostrar e vivenciar esse amor, mesmo que recolhido a pedras de sal. A maior vingança, talvez seja ser feliz de verdade e esquecer o passado, para que novas situações bacanas aconteçam, outras pessoas surjam e possamos testar o quanto somos especiais de verdade com alguém que sabe reconhecer isso.

Parece nobre falar isso, mas é. Saborosa vingança ser feliz. 

PERDI O TEMPO




Perdi a hora, não sei mais onde ela está.

Trabalhar em casa tem dessas coisas. Larguei os cartões de ponto pela liberdade do meu lar e virei prisioneira do compromisso. Quanto mais eu trabalho, mais eu tenho e isso acaba virando uma obsessão, um desespero quase injustificável de trabalhar e trabalhar e trabalhar...

O ânimo está indo direto para o tal do Beleléu. O corpo, sedentário, aspira cuidados. Os desejos, esquecidos para depois. E a máquina do tempo, atroz, vai ceifando os meus minutos sem dó e nem piedade.

É como uma terapia. Todos os dias, procuro ler partes do meu livro, desligar todos os aparelhos eletrônicos e meu celular não tem acesso a internet. Ouço música, converso com os amigos, falo generalidades, jogo qualquer coisa que me entretenha por alguns momentos. Ainda falta muito para me aproximar do saudável, como caminhar diariamente, por exemplo, criar horários fixos de trabalho em casa e a cada vez mais, trocar menos o dia pela noite. Mas se fosse fácil eu já estaria lá, fazendo o certo e ainda um pouco mais.

Mas é verdade, que nada disso seria tão obsessivo, não fosse uma pontinha depressiva me rasgando por dentro. Daquela saudade de alguma coisa que não tive, do sonho perdido, do amor fracassado, das dúvidas do futuro, do clima hora pesado de problemas sufocantes. Depressão de não ter o controle do tempo, de que tudo agora parece ser mais desgastante que antes, uma força muito maior para se mover, lutar, desejar, querer...

Essa geração eletrônica é louca, triste, solitária e gorda. Saudades dos meus velhos tempos em que não existia celular e o papo era feito pessoalmente, olhos nos olhos, sempre carregados de verdade e humanidade.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

AFOGAMENTO






Uma discussão entre amigos pode desencadear uma série de análises sobre a própria vida.
O que me fez estar nesse caminho e não em outro? Porque estamos com essas pessoas e não com outras? O que nos fez agir ou não agir? Divagações...

Pensamentos, tão vagos quanto as respostas, se perdem em madrugadas insones.

A amizade é um amor involuntário, que cresce com o tempo e vai se adaptando a vida cotidiana. Não amamos iguais, como se supõe, mas afins. Mas a convivência árdua e cruel, podem mostrar partes de nosso ser, dificeis até para nós mesmos, quiça para alguém que caiu de paraquedas em nossas vidas.
Ser leal não é tão fácil quanto parece ser. Embora eu sempre tenha agido com quem amo, de forma aberta e com víceras abertas, as dúvidas ainda são pertinentes. As crises, idem.

E me deparo, triste, com o fato de que são raros os capazes de me compreender e entender que quando me abro é de verdade, que ser sincera é natural pra mim e que ninguém pode ser igual a quem não se encaixa, como eu, nesse mundo tão estranho.

A ironia faz parte de meu sorriso, a inteligência não se afasta de mim nem nas horas mais efêmeras, o afeto é tão necessário quanto a água e ofereço confiança como forma de boas vindas. Embora objetiva, nada do que eu falo é apenas simples, mas vem carregado de motivos e significados coerentes. Minhas alucinações são tão racionais que doem. E eu vejo além do que a retina pode me mostrar. A alma, nua e crua, de quem trafega em minha vida tão peculiar, sem maquiagens.

E ver almas não é para qualquer um, vamos lá, a verdade doi. Nem eu mesmo suporto meus equívocos, como posso pedir que me suportem?

Hoje vejo que afastei quem merecia meu valor e dei valor a quem não merecia. Por preguiça, me acomodei ao prático. Por carência, entreguei fácil demais o ouro pro bandido. Quantas vezes já não fizemos isso sem nos dar conta?

Quero mais isso não. Eu passo.

EGO





Meu ego fala muito alto quando tenho vontade de ouvir o silêncio.

_Fique quieto! – eu clamo e não adianta.

Ele insiste em me puxar pelo pé e ser soberbo e maior que eu mesma.

Esse tal de ego sabe ser um chato. Ele não me deixa engolir a seco as provocações e me faz lutar para impor minha verdade e, invariavelmente, me deixa em maus lençóis.

Ele não é domado, não se aquieta no silêncio, não escuta ninguém. Ele vai e vai e vai. Se enche de ar e segue pleno, sem olhar aos lados, empurrando quem estiver a sua frente.

Depois sofre, quieto e soluçante, num canto qualquer, se sentindo muito injustiçado pelo mundo.

Tolo que é, não sabe escutar. E nem perceber que o mundo real é cruel com quem é livre e age pela sua própria cabeça. Que a porrada começa quando ele quer ser ele mesmo e ponto, sem se influenciar pela ingrata maioria.

É apontado, subjulgado, invalidado e posto a prova, porque ousou ser do contra. Que importa as belas filosofias que prega, se elas, na prática, são contrárias aos vícios da humanidade? Se ele mesmo é também tão defeituoso quanto os outros a quem critica?

Doce ego, cale-se! Pare de se mostrar, todo exibido, admitindo suas belezas e feiuras. Deixe de ser tão indelicado, tenha modos!  Não me meta em polêmicas, exposições. Deixa eu conviver com minha hipocrisia segura, para não me machucar mais.

Vá de retro seu ego safado!

FELICIDADE



Aprendi que o segredo da felicidade é não ter expectativas. Aprendi também que a felicidade está em coisas tão simples, que a subjulgamos. Parece que para ser feliz, precisamos alcançar grandes feitos e atingir o topo e não é verdade. Ser feliz é ter paz dentro de nós e ao redor, valorizar o que é de mais precioso na vida. Damos muito valor a efemeridades, como se nelas pudéssemos substituir o que realmente somos. E é impossível ser feliz escondendo quem somos de fato.

Essa pessoa carrancuda, que esconde o que sente não pode ser feliz. Essa pessoa que se olha no espelho e finge ser outra pessoa, que se incomoda em demasia com o que os outros vão pensar e eleva sua boa reputação, acima do seu caráter.

Ser feliz é entender que o amor está nas entrelinhas e não em gestos grandiosos. É perceber que a amizade é também errar e ser contrário ao que pensamos e cremos. É saber e aceitar, que todos somos diferentes,mas queremos de fato, a mesma coisa: ser feliz.

Felicidade é uma palavra gostosa de se dizer. Deveria ser degustada com mais frequência e quista com mais ânimo. Apaixonadamente, com a plenitude da natureza.