sábado, 6 de novembro de 2010

CHEIRO



Tenho cheiro de mar em minhas mãos, para que eu não esqueça de todas as roupas que engomo. Já lavei incontáveis camisas brancas, que de tão brancas ainda restauram um pouco de anil em minhas unhas.
Prefiro lembrar do mar àquele vicio de fumaça trafegando nas narinas.
O sabão me cansa, mas esfrego com afinco cada vinco, cada mancha, lavando a camisa e a alma com a força abrupta de quem tem raiva de ser igual, todos os dias, massacrantemente igual.
Nenhuma camisa era minha, mas fiz minhas extravagâncias esfregando a alma dos outros como se fosse a minha.
As rachaduras nas mãos serviram de reflexão.

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