quarta-feira, 24 de agosto de 2011

FORA DA ORDEM MUNDIAL




Acho que nasci para ficar sozinha. E nem falo isso com sofrimento pela solidão. Não me sinto só, gosto de mim, da minha própria companhia e muitas vezes acho as pessoas muito chatas.
Seus mundinhos tão perfeitos e vazios, seus defeitos e hipocrisias que me cansam os ouvidos e lotam meu coração de tédio.
Não sei se sei me relacionar com alguém por longo tempo. Já testei isso ao longo dos meus 40 anos e não fui bem sucedida. Não sei contar todos os meus segredos, dividir meus problemas, aceitar apoio sem me achar um estorvo. Só aprendi a deixar de rachar a conta, por contingência da vida. Não que meus relacionamentos tivessem sido um fracasso, mas não tenho grande habilidade para a longevidade.
Dito isso parece que sou a mais introspectiva das criaturas, mas não é nada disso. Aprendi desde cedo a me virar, a aprender a contar comigo mesma nas horas difíceis e felizes. As pessoas ao redor poderiam ou não estar do lado e ajudar, mas não era regra. Portanto, se queria alguma coisa, até mesmo me divertir, contava comigo mesma. E com isso aprendi a não culpar ninguém pelos meus próprios erros e também a aceitar o resultado das minhas escolhas. Não tenho talento para ser mártir de meus erros ou para apontar qualquer pessoa por isso. Se alguém me fez algo, a culpa é minha que permiti.
Talvez eu seja dura demais comigo mesma, mas não tem jeito.
Meus gostos sempre foram distintos do da maior parte dos meus amigos em várias fases da minha vida. Sempre me senti meio isolada, falando línguas diferentes das da maior parte das pessoas. Tenho alma, de fato, de artista e sem a parte do glamour, mas da mente borbulhante, da incompreensão do raciocínio singular, da necessidade de me distinguir dos demais e da fatal incompreensão. E, afinal, ser inteligente é, na maior parte das vezes, se sentir um ET. Por tudo isso, aprendi a ter amigos para cada parte dos meus gostos. Os simples, do churrasquinho e da cerveja; os mais requintados, que adoravam restaurantes badalados; as “patricinhas” que buscam badalações animadas e chiques; as “periguetes” para me tirarem da timidez; as “certinhas” para me manter o prumo; os cultos, ratos de exposições, teatros e cinema; os saradões, para me lembrar o quanto o exercício físico é necessário; os religiosos, para encontrar religiosidade no meu racional; os ateus, para encontrar o racional no meio de tanta religiosidade...
Mas como encontrar só uma pessoa, que unisse todas essa s e outras frentes, para seguir comigo nessa vida?
Da mesma forma que os amigos, também namorei o grosseiro, o gentil, o amalucado, o certinho, o casado, o sarado, o intelectual... E nenhum ficou por tanto tempo que pudesse me fazer sentir tão plena e compreendida. Poucos amei. Acho que exigi de todos eles atenção no meio de tanto tumulto, para que eu olhasse para as efemeridades da vida e descobrisse, finalmente, o que hoje tiro de letra. Que tudo o que sempre quis fosse alguém para me dar as mãos, não importa qual caminho.
O amor é tão simples hoje que chega a me estatelar os olhos. Mas continuo só. Talvez descobrir seu significado tenha me isolado de vez da raça humana. Finalmente, a Et.

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